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Amor à primeira vista existe!

Atualizado: 19 de out.

Do encontro inusitado em MG até o casamento no laboratório da USP, em SP: a história

entre a cientista e seu louva-a-deus, com direito a lua de mel nos EUA


Ecóloga: Drielly Queiroga

Preparado por Tatiana Nepomuceno - Jornalista do Projeto Mulheres na Ecologia

Revisado por Elvira D'Bastiani - Ecóloga do Projeto Mulheres na Ecologia


Foto: Drielly Queiroga.


“Eu nunca tinha visto um louva-a-deus vivo até, um dia, entrar um por acaso na cozinha da minha casa, em Minas Gerais. Foi amor à primeira vista”, conta a pesquisadora Drielly Queiroga, da Universidade de São Paulo (USP). Passaram-se anos desde o flerte em solo mineiro e a paixão entre a cientista e o louva-a-deus continuava avassaladora. Seus pensamentos não desviavam nem por um segundo daquele ser multifacetado, cheio de cores e comportamento peculiar: Acontista brevipennis (ou Metaphotina brevipennis), eleito, posteriormente, para subir ao altar científico e com direito a lua de mel nos Estados Unidos da América (EUA).


Assim, como toda história de amor passa por desafios, com esta não foi diferente “Quando estava me preparando para entrar no doutorado, esta espécie foi a primeira coisa que me passou pela mente. Porém, meu orientador, o professor Kleber Del Claro, ficou um pouco receoso. Ninguém trabalhava com estes bichos e seria muito difícil achar quem pudesse nos ajudar. Ele me pediu para pensar mais, me sugeriu libélulas, mas depois de um tempo eu voltei e disse que meu coração estava apontando este caminho e ele prontamente me apoiou neste projeto”, relembra. E não deu outra, a pesquisa da doutoranda do Programa de Pós-graduação em Entomologia da Universidade de São Paulo (USP), intitulada A diversidade de história natural dos louva-a-deus do Cerrado, decolou e foi rumo à University of Cincinnati Ohio, nos EUA. De acordo com a cientista, que embarcou em setembro deste ano, a expectativa é aprender técnicas de mensuração de luz do ambiente e coloração animal para aplicar no seu trabalho “Além disso, quero ser uma ponte entre meu país e EUA, a fim de fomentar mais parcerias internacionais que sejam benéficas para ambos”, esclarece.


Todo este empenho se deve ao fato de que estudos envolvendo louva-a-deus são incipientes no mundo. Necessitando de esforços conjuntos dos cientistas para aprimorar os desdobramentos científicos necessários à compreensão acerca da estratégia de sobrevivência destas espécies “Meu foco é a região do Cerrado brasileiro e este ambiente apresenta duas estações bem distintas: uma parte do ano está completamente verde e vibrante e na outra completamente marrom e pálida. Foi a partir disto que surgiu a ideia de ver se esta variedade de cores, de alguma forma, ajudava os louva-a-deus a se esconderem melhor a depender da estação do ano”, explica.

Para isto, a pesquisadora irá utilizar um equipamento para quantificar a cor de cada louva-a-deus capturado e realizar algumas análises que vão comparar a cor encontrada com as características do ambiente no momento em que foi coletado aquele indivíduo, como: a temperatura, umidade e horas de exposição à luz. “Juntando o que a gente sabe da cor deles e estes dados do ambiente externo, será possível entender se existe uma cor que é mais comum em cada época do ano e que tipo de característica o louva-a-deus utiliza para adaptar sua cor”, explica.

Estratégia de sobrevivência


Caso seja comprovado que o louva-a-deus faz adequação da sua cor à cor do ambiente, as mudanças climáticas podem afetar sua estratégia de camuflagem e, consequentemente, sua sobrevivência. Já que eles serão vistos com mais facilidade por suas presas (não conseguindo se alimentar) ou poderão ser capturados mais facilmente por seus predadores. “Por serem caçadores agressivos e vorazes, é mais que esperado que a perda deles afete o equilíbrio das espécies no ambiente em cadeia, embora seja difícil dizer exatamente de que forma”, esclarece.

E tem mais, além das consequências ambientais citadas, com a alteração no número de louva-a-deus estaríamos perdendo grandes aliados tecnológicos. É que por serem os únicos insetos com visão tridimensional, eles têm sido modelos para diversas pesquisas na área da robótica. Já tem até louva-a-deus desfilando com óculos 3D por aí. “Tenho esperanças que entendendo os mecanismos responsáveis pela camuflagem do louva-a-deus e como ela ocorre, os cientistas consigam prever os impactos de intervenções que alterem o ambiente e como elas colocam em perigo diversas espécies ao ameaçar as estratégias utilizadas para a sua sobrevivência. Afinal, a falta de estudos básicos sobre a nossa biodiversidade faz com que nós possamos estar perdendo funções importantíssimas e inesperadas. Perdendo espécies que regulam o clima, que produzem compostos para a cura de doenças graves ou que auxiliam o desenvolvimento de novas tecnologias (como o louva-a-deus). Não é raro vermos trabalhos como o do veneno da Jararacuçu e a inibição da Covid in-vitro. Precisamos corrigir essas lacunas”, finaliza.


CONTATO DA PESQUISADORA:


Nome completo: Drielly Queiroga

Instituição de ensino: Programa de Pós-graduação em Entomologia da Universidade de São Paulo (USP)

Título do projeto: Diversidade de história natural dos louva-a-deus do Cerrado

Instagram: @drielly.q

 
 
 

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