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O nosso quadro "Sou cientista e essa é a minha pesquisa" tem como intuito divulgar as pesquisas científicas desenvolvidas por mulheres, além de promover a visibilidade dessas mulheres e de suas pesquisas.

Neste quadro produzimos notícias a partir de teses, dissertações e trabalhos publicados e enviados por vocês! Essas notícias são publicadas aqui em nosso site e em outros meios de comunicação.

Curtiu? Entra em contato com a gente no e-mail ecologianamidia@gmail.com 📧

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Estudo conduzido nos EUA, por brasileira, apresenta metodologias para mitigar o atropelamento de animais silvestres no nosso país..


Preparado por Tatiana Nepomuceno - Jornalista do Projeto Mulheres na Ecologia

Revisada por Elvira D'Bastiani - Ecóloga do Projeto Mulheres na Ecologia



Fotos: Acervo pessoal Eleonore Setz.


Uma estimativa parcial realizada pelo Sistema Urubu, indicou que 17 animais morrem nas estradas brasileiras a cada segundo. Diariamente são mais de 1,3 milhões de animais mortes e até 475 milhões de vidas selvagens são perdidas anualmente. O Sudeste e o Sul são as regiões com maior número de registros de atropelamentos. Apesar destes dados serem atuais (2022), já em 1999 a pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Eleonore Setz, estava antenada neste problema e quando as pesquisas sobre atropelamentos de animais em rodovias ainda eram incipientes no Brasil; a cientista embarcou rumo a Geórgia (EUA) para conhecer a fauna desse estado e estudar os fatores envolvidos nos atropelamentos de animais silvestres. “Eu já conhecia o estado da Geórgia quando combinei um pós-doc junto à Universidade da Geórgia, em Athens. Contudo não conhecia a fauna deste ambiente temperado e achei que investigar atropelamentos poderia ser uma forma de conhecê-los”, comenta Setz.


“Na época não havia GPS e, neste sentido, não dava para plotar os pontos de ocorrência num Google Earth. Identifiquei mais de 30 espécies, 80% mamíferos (veado e raposa cinzenta, por exemplo), 11% répteis (jabuti, cobra-de-vidro, e várias serpentes) e 9% aves (coruja e muitos passarinhos)”, relembra. “Voltando ao Brasil co-orientei um doutorado sobre atropelamentos em Franca (SP) e Araxá (MG). Nos EUA, cheguei a acompanhar excursões para visitar passagens de fauna, em combinação com os congressos da Conferência Internacional sobre Ecologia e Transportes (Icoet) e pude observar várias alternativas nos Estados Unidos (EUA) para preservar a fauna de atropelamentos”, relembra a pesquisadora.


De acordo com a pesquisadora, nos EUA as soluções variavam entre os Estados federativos. No Arizona, por exemplo, aproveitavam o relevo para fazer viadutos e deixavam um vão livre para passagem da fauna. “O próprio relevo e cercas orientavam a fauna para a passagem e havia também escapes nas cercas, caso o animal entrasse nas faixas de rolamento”, recorda a pesquisadora. “Já nos Everglades, sul da Flórida, as soluções iam desde passagens da fauna sob a estrada (levemente levantada e acompanhadas por cercas condutoras de 3m), até sinalizadores luminosos e sonoros quando animais com colares de rastreamento se aproximavam da estrada”, explica ela. Este conhecimento adquirido permitiu à cientista discutir e ajudar a consolidar propostas que mitiguem os atropelamentos de animais silvestres no Brasil. “Embora hoje em dia já existam especialistas pesquisando especificamente atropelamentos e a eficácia de passagens da fauna no país”, conta a pesquisadora.


Setz afirma que, apesar de existir muita literatura sobre a eficiência dos diversos tipos de prevenção aos atropelamentos, ainda faltam iniciativas e interesse público para evitá-los no nosso país. “As diferenças entre os custos acerca das alternativas para prevenir atropelamentos da fauna silvestre são grandes e ninguém quer investir a menos que sejam obrigados nos projetos de duplicação, como na Rodovia dos Tamoios, no litoral de São Paulo e na estrada para os lagos no Rio de Janeiro, por exemplo” explica a cientista.


Ainda, de acordo com a pesquisadora, quando há algum tipo de intervenção elas são por vezes escassas ou insuficientes. “Em alguns trechos da Rodovia Dutra (SP) há cerquinhas de pífio 0,5m de altura, com cartazes sobre ações contra atropelamentos de fauna pela concessionária. Estas placas dão consciência do que existe por ali, de espécies da fauna, mas não acredito que tenham um papel significativo na prevenção dos atropelamentos. Depois de um tempo o motorista não presta mais atenção. Já registrei atropelamento de lobo-guará na Dutra, muito triste”, ressalta Setz.


Por isto, é preciso mais! Alternativas como passagens de córregos associadas a continuidade das matas de galeria (determinadas pelo código florestal) proporcionariam um avanço incrível na mobilidade da fauna terrestre. Há também vários tipos de passagens para espécies arborícolas que poderiam ser repensadas.

De acordo com Setz, utilizar das atividades da rede hidrográfica e do Código Florestal para cuidar das passagens e corredores de fauna associados aos córregos seria o start inicial “As pontes pré-fabricadas seriam um bom começo, pois permitiria a passagem livre da água, com margens secas para o trânsito e conexão da fauna. A naturalidade destas passagens poderia, talvez, até prescindir de cercas condutoras, pois a mata de galeria e a água já mostrariam o caminho. Melhor ainda se evitássemos cortar fragmentos florestais, unidades de conservação, terras indígenas com linhas de transmissão, rodovias e ferrovias. Embora as curvas pudessem tornar este caminho mais longo e caro financeiramente; o caminho seria menos monótono e a paisagem mais variada para os diferentes transportadores”, acrescenta Eleonore.


E o que isto afeta a minha vida?

Muito simples! Atropelamentos da vida silvestre podem causar desequilíbrios ecológicos que afetam diretamente o ser humana. Sabe como? Em determinadas localidades, a perda de espécies pode ter um impacto muito grande sobre a biodiversidade e desencadear um desastre ambiental. É que quando pensamos nos atropelamentos de onças pardas, pintadas (espécies simbólicas do Brasil) ou outros predadores de topo que conseguimos traçar o nexo causal e suas consequências diretas ao ser humano.

Pense! “O que a onça parda come? Filhotes de capivara e tatus, por exemplo. Sabemos que uma superpopulação de capivaras acaba sendo associada a uma infestação maior de carrapatos e casos de febre maculosa em humanos, e alguns casos levando a óbitos. No caso dos tatus, uma superpopulação pode ser associada a um aumento de casos de leishmaniose”, explica Eleonore. “Assim, preservar estes predadores é preservar seus serviços ecológicos. Não devemos subestimar esta missão tão importante. No caso dos frugívoros (espécies que se alimentam somente de frutas), precisamos considerar seus serviços de dispersão de sementes na regeneração da vegetação. Ou seja, também não devemos subestimar a importância dos serviços destes frugívoros, e assim por diante. Estes valores não são contabilizados nos atropelamentos e muito menos os efeitos das estradas na separação de populações, na redução do fluxo gênico”, finaliza Eleonore.


O desenvolvimento sustentável e bem-estar animal: Brasil na contramão do mundo


Enquanto o resto do planeta se une em defesa da fauna e reconhece o seu valor enquanto pilar de sustentação da biodiversidade e saúde do planeta, o Brasil insiste em direcionar seus esforços rumo a uma matança predatória contra o meio ambiente. Isto porque enquanto o país pensa em formas de fomentar a destruição predatória e desenfreada da nossa rica fauna e flora (com a retomada da PL 5544/2020 e de tantas outras regras de “proteção ambiental”, que nada tem de proteção); o resto do mundo se une em prol da defesa do meio ambiente e da fauna e flora.

Recentemente o encontro realizado durante 5a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (com 193 países membros da ONU, empresas e sociedade civil, em Nairobi/Quênia) emitiu resolução que faz referência explícita ao bem-estar animal. De acordo com a proposta não há como pensar em conservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável sem levar em conta o bem-estar das milhões de espécies de animais do nosso planeta. O texto da resolução solicita ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que produza um relatório com a colaboração da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), sobre a relação entre bem-estar animal, meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

O documento deverá identificar parceiros, partes interessadas e será apresentado para tomada de decisão dos Estados membros com relação a ações que visem a proteção dos animais, seus habitats e o cumprimento dos requisitos de bem-estar animal. De acordo com o chefe de biodiversidade e terra do Pnuma, Doreen Robinson, a exploração insustentável e o consumo excessivo de animais estão ligados às três crises interrelacionadas de perda de biodiversidade, mudança climática, poluição, e também estão ligados ao aumento do risco de doenças zoonóticas. “O bem-estar dos seres humanos, dos animais e do planeta estão ligados. Quando paramos de degradar a natureza, também reduzimos os riscos para a saúde humana”, pontua Doreen.


Portanto, pare e pense nas consequências para a sua vida diária se a PL 5544/2020 (que visa a retomada da caça desportiva de animais silvestres) é aprovada no Brasil. Em especial porque a prática inclui áreas com significativo índice de atropelamentos de animais silvestres e isto pode colocar, ainda mais, em risco a biodiversidade de espécies que são vitais para o equilíbrio ecológico dos ecossistemas.


Se o mundo converge na proteção da fauna e conclui que sem ela é impossível conter a perda da biodiversidade, mitigar as mudanças climáticas, reduzir a poluição e o risco de novas doenças zoonóticas infecciosas (Como por exemplo, a gripe aviária ou o novo coronavírus), por que o Brasil tem que ir na contramão e permitir a aprovação da PL 5544/2020? Uma falácia soberba em um país sem um mínimo de controle e fiscalização: nem da caça e nem de atropelamento de animais silvestres em rodovias.



CONTATO DA PESQUISADORA:

Nome completo: Eleonore Zulnara Freire Setz

Titulação: pós Doc, Universidade da Georgia em Athens, USA.

Títulos dos projetos: Ecologia dos atropelamentos silvestres em estradas de três larguras e trânsito, e Ecologia alimentar de carnívoros em unidades de conservação no nordeste da Geórgia, USA

Fotos: Acervo pessoal Eleonore Setz

Endereço do instagram para marcação: @ lama_unicamp


Termos de Uso

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Pesquisadora usa genética para diferenciar espécies de formigas brasileiras


Preparado por Tuany Alves - Jornalista do Projeto Mulheres na Ecologia

Revisado por Elvira D'Bastiani - Ecóloga do Projeto Mulheres na Ecologia


Foto: Philipp Hönle.


Na natureza, nem tudo é o que parece, e encaixar essas variações em categorias pode ser, muitas vezes, um verdadeiro trabalho de detetive. Acontece que, embora seja um dos pilares da biologia, a definição do que é uma espécie ainda é um grande desafio. Segundo a doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Unicamp, Marianne Silva, quando a diversidade de um grupo não é tão grande, definir o que é uma espécie pode ser mais fácil. Porém, em casos como o de formigas essa jornada é mais complicada, como é o caso das Camponotus!


Abundantes no cerrado as Camponotus renggeri e C. rufipes participam de várias interações de defesa com as plantas, sendo bastante utilizada em trabalhos de interação formiga-planta no Cerrado e em trabalhos de levantamento de fauna. Contudo, por muito tempo, existiu uma incerteza sobre a sua taxonomia (o grupo em que se encaixam) e até se elas eram mesmo duas espécies ou apenas uma.


Para resolver esse mistério da natureza, Marianne e a equipe do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Unicamp, contaram com a ajuda da genética. "Olhamos para a composição genética dessas formigas, usando marcadores moleculares microssatélites e amplificação do gene mitocondrial COI”, conta a pesquisadora. Marianne e sua equipe também caracterizaram em que tipo de ambiente as formigas mais ocorriam, os tipos de ninhos de cada espécie, sua distribuição e sua composição em termos de número de rainhas e operárias nas colônias. “Juntas essas informações e evidências nos permitiram mostrar que, de fato, essas duas espécies se tratam de diferentes entidades taxonômicas”, explica Marianne.


DNA de Formiga

Porém, o grupo não parou por aí! A partir dos resultados de sua pesquisa, Marianne desenvolveu um segundo estudo. O objetivo dessa vez era encontrar os subgrupos genéticos dentro da espécie C. rufipes, o que não foi observado para C. renggeri. “Na época, a gente se perguntou se havia alguma diferença no sistema reprodutivo dessas espécies que levavam a essa distinção na distribuição da diversidade genética”, lembra a pesquisadora.

Foto: Marianne Silva.


Para resolver esse novo mistério a equipe decidiu estudar a composição genética das colônias e utilizaram marcadores microssatélites, uma análise muito parecida com as feitas nos exames de DNA para verificar a paternidade em humanos. “Conseguimos olhar para as linhagens maternas e paternas das duas espécies e mostramos que elas têm estratégias reprodutivas diferentes. No entanto, o nível de diversidade genética dentro das colônias era igual”. Ou seja, diferentes estratégias reprodutivas podem levar ao mesmo resultado no nível da diversidade genética.


Com essa descoberta, veio a dúvida: se a resposta para a diferenciação de padrões de distribuição de diversidade genética não está na reprodução das espécies, o ambiente seria o responsável?


Com isso em mente, a equipe partiu para o terceiro estudo! Segundo Marianne, para responder a essa pergunta eles usaram uma abordagem recente de genética da paisagem. “Nesse tipo de análise, usamos os dados genéticos das formigas para entender como o ambiente facilita ou impede a dispersão delas”, explica Marianne. O resultado foi de que o ambiente não influencia a dispersão da C. renggeri, mas a da C. rufipes sim! Acontece que nela as rainhas dependem de áreas de cerrado para se dispersarem, “assim, áreas fragmentadas de cerrado podem ser uma barreira à dispersão dessa espécie, levando à formação de subgrupos genéticos”, concluíram a equipe.


Conhecendo a biodiversidade

Segundo Marianne, esses resultados são importantes à medida que mostram que quanto mais fontes de evidências utilizamos, mais robusto é o reconhecimento de uma espécie como válida. O que é ainda mais crucial quando se busca identificar a biodiversidade de espécies. “Em meu trabalho um estudo foi encadeado pelo outro e hoje temos uma compreensão melhor do que influencia a diversidade genética das formigas, um aspecto pouco explorado em ambientes Neotropicais, como o Brasil. Isso nos permite aprofundar e entender melhor os sistemas biológicos, dando ainda mais embasamento para, por exemplo, medidas de conservação das espécies”, destaca Marianne. Além disso, embora o estudo tenha sido focado em duas espécies de formigas, incertezas taxonômicas existem em diferentes grupos de seres vivos. “A abordagem que utilizamos pode ser estendida e adaptada a esses diferentes grupos”, ressalta Marianne.


O que é a ecologia molecular?

Ecologia molecular é um ramo de estudo em que se busca responder perguntas que são essencialmente ecológicas e evolutivas, mas a metodologia inclui a análise de dados moleculares. Por meio dessas informações conseguimos responder perguntas que são difíceis, ou impossíveis, de responder apenas com dados observacionais. Segundo Marianne, temos exemplos fantásticos do uso de dados moleculares dentro da ecologia. Por exemplo, a partir do DNA de plantas encontrados nas fezes dos grandes herbívoros da África, pesquisadores foram capazes de entender como esses animais conseguem coexistir, mesmo todos comendo plantas.


No mar, pesquisadores foram capazes de dizer – por meio de DNA encontrado na água – quais espécies de peixe ocorrem em diferentes faixas de distância. Além disso, fazendo teste de paternidade em lobos marinhos, pesquisadores conseguiram mostrar que esses animais fazem cópula subaquática. No Brasil, cientistas olharam para a composição genética dos mangues e conseguiram mostrar que os mangues do norte do país apresentam adaptações diferentes daqueles localizados no sudeste do Brasil. “Ou seja, são muitos exemplos legais e que mostram que a ciência fica ainda mais interessante quando diferentes áreas se juntam para investigar problemas”, finaliza Marianne.



CONTATO DA PESQUISADORA:

Nome completo: Marianne Azevedo Silva

Titulação: doutoranda na Universidade Estadual de Campinas – Programa de

Pós-graduação em Ecologia

Título dos projetos: Estudos sobre formigas neotropicais: interações com insetos herbívoros, ecologia comportamental e organização social (1); Ecologia de interações, ecologia comportamental e biologia molecular de formigas neotropicais

(2); Ecologia molecular de formigas neotropicais (3).

Fotos: Acervo pessoal Philipp Hönle (1 e 2) e Marianne Silva (3 e 4)

Endereço do Instagram para marcação: @mari.formiga


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Atualizado: 16 de jan. de 2023

A luta dos povos originários do Brasil não cessa entre os anos e aflora a necessidade de uma olhar mais direcionado dos órgãos governamentais para com eles.


Preparado por Tatiana Nepomuceno - Jornalista do Projeto Mulheres na Ecologia

Revisada por Elvira D'Bastiani - Ecóloga do Projeto Mulheres na Ecologia


Fotos: Acervo pessoal Eleonore Setz.


Parece que foi ontem, mas já se passaram 43 anos desde a primeira vez que a pesquisadora Eleonore Setz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), adentrou as matas do Vale do Guaporé e os campos verdejantes do Cerrado Mato-Grossense em busca das aldeias Alantesu e Juína (Nambiquara), respectivamente. O objetivo era se conectar com os costumes destes povos, entender seus hábitos alimentares e suas relações com o ambiente na obtenção da sua comida, o encontro surgiu de insights inusitados “Nós, urbanóides, vivemos uma vida surreal, não temos muita ideia de onde vem a nossa comida, a ponto das crianças acharem que o leite vem da caixinha. Por isso desperdiçamos, não relacionamos a comida com o nosso trabalho, com o uso do ambiente para sua produção”, aponta Setz.


Com os índios é diferente, eles possuem uma co-responsabilidade natural com a terra e com o que ela provém de alimento para eles. Há uma certa simbiose onde a mãe natureza cuida das tribos indígenas e os índios cuidam da mãe natureza “Por isto era importante compreender este mecanismo e trazer a tona a vida tradicional, de forma científica, a fim de elucidar e esclarecer algumas questões sobre nossa dependência do ambiente e os perigos da sociedade de consumo”, relembra Setz.


Imbuída desta inquietude, a pesquisadora arrumou sua mochila e equipamentos de trabalho e adentrou por meses na rotina dos povos Alantesu (Floresta) e Juína (Cerrado), a fim de descobrir sobre o modo de vida destas duas aldeias indígenas e sua relação com a comida. “Aprendi sobre os sistemas interligados de Odum na aula de Ecologia (onde os organismos vivos e o seu ambiente não vivo interagem entre si) e pensei: na cidade comemos itens produzidos em outros estados ou países, fica difícil delimitar o sistema. Quem sabe na vida rural? Mas, também eles usam insumos agrícolas que vêm de outras regiões. Por outro lado, uma aldeia indígena, mesmo que tenha algum insumo externo, daria para avaliar”, relembra. “E se eu pudesse comparar uma aldeia na floresta com solos

ricos e férteis; com outra da mesma cultura, no Cerrado, onde os solos são pobres em nutrientes e pouco férteis?”, recorda.


E foi justamente o que a pesquisadora fez. O estudo utilizou a teoria do forrageio ótimo para fazer estas comparações e o resultado foi que a aldeia Juína do Cerrado gastou três vezes mais tempo nas atividades de subsistência e quatro vezes mais área, ainda que usando esta área de um modo mais eficiente (acampando pelo caminho, atingindo regiões mais distantes nestas caçadas), quando comparado com a aldeia Alantesu, localizada na floresta, no Vale do Guaporé. “A pesquisa mostrou que a vida era mais difícil no Cerrado, incluindo o rio Juína que possuía águas claras e dificultava a pesca”, complementa. Tais apontamentos inferem que em solos poucos férteis, os alimentos são menos abundantes e a vida é mais difícil. Portanto, o tempo e o espaço que os índios usam para obter sua comida será muito maior. Por isso, o trabalho de órgãos de proteção aos indígenas, como a Fundação Nacional do Índio (Funai), é essencial para sua preservação. É preciso um olhar crítico e diferenciado frente a diversidade de povos originários do Brasil, pois cada tribo possui uma particularidade ímpar. A aldeia Juína (Cerrado), por exemplo, tem na caça e coleta sua principal fonte de sobrevivência, logo a área destinada a esta tribo deve ser enorme “Infelizmente hoje, o Google Earth mostra que a área de caça mapeada da aldeia Juína (Cerrado Mato-Grossense) se transformou em plantação de soja, e existe inclusive uma cidade onde era um dos acampamentos de caça”, conta Setz.


Ademais, de acordo com a pesquisadora, as aldeias se mudam de dez em dez anos e assim a área antiga utilizada descansa. Somente depois de descansar uns 50 anos é que pode prover subsistência novamente, tanto de plantio como de caça e por isto a área de proteção precisa ser extensa. “As pessoas não entendem, ou melhor, não querem pensar nisso, mas se a reserva for muito pequena não haverá área para a terra descansar e o uso ininterrupto vai degradar o ambiente. A preservação do ambiente pelos índios se dá na medida em que há áreas de descanso da terra, bolsões onde os animais não sejam caçados para funcionar como "reserva" de caça futura! Por isso as reservas devem ser grandes para dar conta destes bolsões, destas áreas de descanso. No Cerrado, as áreas precisam ser ainda maiores do que as da floresta fértil e a densidade humana precisa ser baixa, senão todos os recursos serão esgotados”, explica a pesquisadora.


Por que proteger os indígenas é proteger a biodiversidade?

O fato é que a cada dia que passa nosso meio ambiente grita por socorro, nossas águas estão ficando cada vez mais insalubres e escassas, nossos solos inférteis e caminhamos para um desastre ambiental. Se as autoridades governamentais não se conscientizarem sobre os impactos das ações antrópicas no meio ambiente e dos infortúnios do aquecimento global para o planeta, estaremos caminhando rumo ao fim. “Hoje, os produtores estão “gastando” a fertilidade do ambiente, adubando e poluindo as águas, tirando a floresta que nos dá a chuva e enche os aquíferos, enfim gastando o patrimônio do Brasil e privatizando estes recursos”, aponta.

Entretanto, há formas de evitar o colapso. Uma delas é a preservação das áreas indígenas e de seus povos. De acordo com relatório emitido pela Organização das Nações Unidas (ONU) a proteção indígena ajuda a resguardar a biodiversidade. É que, de acordo com o documento, a destruição da natureza é mais lenta nas terras onde vivem os povos indígenas do que no resto do planeta. Hoje, estima-se que a população indígena brasileira seja de 1,3 milhão. O Censo Demográfico 2010 revelou que 817 mil pessoas se autodeclararam indígenas e que o crescimento no período (2000/2010), 84 mil indígenas, representou 11,4%. Percentual inexpressivo, quando comparado com o período anterior (1991/2000) com crescimento de aproximadamente 150%. Ocorre que, entre incêndios e desmatamento crescente nas matas, lutas pela demarcação de terras em um país cujo Estado negligencia a causa e a crescente expansão da agricultura e urbanização desenfreada fica difícil se manter de pé, quiçá aumentar a população indígena e seu território.

Neste contexto, o apoio do Estado é fundamental: "Por meio da minha pesquisa, a Funai descobriu, por exemplo, que a aldeia Juína (Cerrado) caçava fora da reserva. Em vez de trocar a área com um vizinho, desviou a atenção dos índios para ir pescar mais ao norte. Ou seja, usaram meus dados contra eles. Isto me deixou desolada. Depois parece que acabaram trocando, mas não para ajudar na caça, mas para ligar esta reserva a outra, de forma que os índios não precisassem sair da reserva para visitar os outros Nambiquara.”, finaliza. Procurada para comentar sobre o fato relatado, a Funai não se posicionou até o fechamento desta edição.


CONTATO DA PESQUISADORA:

Nome completo: Eleonore Zulnara Freire Setz

Titulação: dissertação de mestrado desenvolvida na Universidade Estadual de

Campinas – Programa de Pós-graduação em Ecologia

Título do projeto: Ecologia alimentar em um grupo indígena, comparação entre

aldeias Nambiquara de floresta e de cerrado

Fotos: Acervo pessoal Eleonore Setz

Endereço do instagram para marcação: @ lama_unicamp


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